sábado, 15 de março de 2014

Uma breve retrospectiva da educação dos surdos no Brasil

                   Uma breve retrospectiva da educação dos surdos no Brasil 
Dependendo da metodologia adotada as escolas podem ser um dos fatores de integração ou desintegração das comunidades surdas, ou seja, se uma escola rejeita a língua de sinais, as crianças surdas que estudam nesta escola não vão conhecer a comunidade surda de sua cidade e consequentemente não aprenderam uma língua de sinais ou poderão interagir com os surdos de sua cidade somente após a sua adolescência.
A partir do Congresso em Milão em 1880 a filosofia educacional começou a mudar na Europa e consequentemente em todo mundo. O método combinado que utilizava tanto sinais como o treinamento em língua oral foi substituído em muitas escolas pelo método oral puro, o oralismo. Os professores surdos já existentes naquela época, foram afastados e os alunos desestimulados e até proibidos de usarem as línguas de sinais de seus países, tanto dentro quanto fora da sala de aula. Era comum a prática de amarrar as mãos das crianças para impedi-las de fazer sinais. Isso aconteceu também no Brasil. Mas apesar dessas repressões as línguas de sinais continuaram sendo as línguas preferidas das Comunidades Surdas por serem a forma mais natural delas se comunicarem. Hoje as escolas aqui no Brasil que mesmo ainda sem uma proposta bilíngue, tem se tornado fator de integração da Cultura Surda Brasileira porque as crianças, jovens e adultos se comunicam em LIBRAS e muitos professores destas escolas já sabem ou estão aprendendo esta língua com instrutores surdos. Por outro lado várias escolas em cidades ou estados que não possuem associação de surdos trabalham ainda somente com uma metodologia oralista e as crianças surdas destas escolas desenvolvem um dialeto entre elas para uma comunicação mínima, mas estas ficam totalmente excluídas da Cultura Surda Brasileira e a maioria não tem bom rendimento escolar. Devido ainda a esta metodologia oralista, há alguns surdos que rejeitando a Cultura Surda e consequentemente a LIBRAS só querem utilizar a língua portuguesa e há muitos surdos que embora queiram se comunicar com outros surdos em LIBRAS, devido ao fato de terem se integrado à Cultura Surda tardiamente usam não a LIBRAS mas um bimodalismo, ou seja, sinalizam e falam simultaneamente como os ouvintes quando começam a aprender alguma língua de sinais. Pelo não domínio da LIBRAS muitos surdos quando estão em uma situação (eventos acadêmicos, políticos, jurídicos, etc) que exigiria intérpretes de LIBRAS para melhor compreensão, não conseguem entender nem a língua Portuguesa nem a LIBRAS ficando marginilizados sem poder ter uma participção efetiva. Mas se ao contrário desta situação houver uma valorização desta língua nas escolas tanto professores como alunos a utilizarem em todas as circunstâncias poderá haver uma participação efetiva de surdos adultos e dos alunos. Aqui no Brasil há mais de cem anos atrás a primeira escola para surdos valorizava a LIBRAS que era utilizada pelos alunos daquela época. Este respeito À LIBRAS propiciou o surgimento da primeira pesquisa sobre esta língua, que foi publicada em um livro que através de desenhos e explicação destes, mostrava sinais mais usados pela comunidade surda do Rio de Janeiro. Este livro Iconografia dos Signaes dos Surdos-Mudos, publicado em 1875, foi feito por um ex-aluno do Instituto de Surdos-Mudos, Flausino José da Gama que ao completar dezoito anos foi contratado por essa escola para ser um repetidor, ensinando aos seus colegas em LIBRAS os conteúdos das disciplinas segundo o Relatório do Diretor Tobias Rabello Leite de 1871. Embora nos primeiros relatórios sobre as primeiras turmas deste Instituto feitos pelo diretor a partir de 1869 constem nomes de alunas em número reduzido, posteriormente durante muitos anos este instituto se tornou uma escola só para meninos e meninos livres, ou seja, que não fossem filhos de escravos ou de índios. Os então educadores consideravam que as meninas surdas por serem tranquilas e estarem submissas às famílias, não necessitavam de escola o que seria vantajoso para o governo porque não iria ter gastos para repasse de recursos financeiros na educação para elas. Com o passar dos anos outras escolas somente para crianças surdas foram surgindo. Em 1923 foi fundado o Instituto Santa Terezinha escola particular em São Paulo somente para meninas. m 1957 foi fundada a Escola de Surdos em Vitória no Espírito Santo. Mais recentemente em 1954 outra iniciativa privada com verba de outros países foi fundada a escola Concórdia, em Porto Alegre. Atualmente há muitas escolas municipais como por exemplo, a Escola Rompendo o Silêncio em Rezende no Rio de Janeiro, a Escola Municipal Ann Sullivan em São Caetano do Sul e a escola Hellen Keller em Caxias do Sul, uma escola somente para surdos que vem implementando uma proprosta bilingüe para a educação dos surdos, ou seja, aquisição da LIBRAS e aprendizado com metodologia apropriada da língua portuguesa e da língua de sinais brasileira. Como em outros países os surdos vem lutando para terem escolas para surdos porque acreditam que através de um ensino que atenda eficazmente suas necessidades língüisticas e culturais, eles poderão se integrar estar em condições de igualdade com os ouvintes quando disputarem em concurso uma vaga para universidades e empregos. Um política educacional que leve em conta a realidade e tradição dos surdos no Brasil poderá reverter o atual quadro de insatisfação em relação à qualidade da educação para surdos que prevalece nas comunidades surdas.

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